Opinião
O significado do S (social) do ESG
Por Marcelo Dutra da Silva
Ecólogo
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O S certamente é a parte mais complexa do ESG, da sigla em inglês para Ambiental, Social e Governança. Muitos pensam que é o E, de environmental (ambiental, em bom português), mas estão equivocados. Aliás, a primeira lição importante ao se falar da adoção das melhores práticas ESG trata, justamente, de esclarecer que a sigla não está concentrada em questões de meio ambiente, que não é algo ambiental que a empresa vai fazer. É isso também, porém dentro de uma perspectiva interna, de comportamento da organização e em pé de igualdade com os outros temas da tríade.
Analisar o eixo social é ver como as empresas se relacionam com seus principais stakeholders, que buscam laços fortes com clientes, colaboradores, fornecedores e comunidades onde estão inseridas. E nada disso tem a ver com filantropia, com doações, ajudas ou qualquer outra ação manifestada pela empresa, no sentido da sensibilidade, frente às questões sociais, incluindo a de seus funcionários ou colaboradores. Mais uma vez, é como a empresa se comporta.
Novos hábitos de consumo, com forte tendência para o consumo consciente, têm acelerado o surgimento de empresas inovadoras, com pegada sustentável, dentro de uma visão de mundo em que vários negócios que pareciam sólidos são levados à fronteira das decisões disruptivas. Grandes líderes do mercado, convictos da sua importância suprema, com pouca atenção ao cliente, terão que se reinventar ou vão perder para aqueles que entenderam o que o cliente deseja. Tornou-se essencial olhar o NPS (net promoter score), ferramenta que mede a satisfação dos clientes.
Empresas com NPS altos são empresas que normalmente investem em treinamento e valorizam seus funcionários. São estas empresas que trazem novas ideias, que estão na linha de frente e que buscam oferecer o melhor produto, o melhor serviço e a melhor experiência para o cliente. São empresas que investem na satisfação, na felicidade, no bem-estar de todas as partes envolvidas no modelo de negócio. Mesmo que atrair talentos continue fazendo parte da receita, fixar quadros produtivos e qualificados está ficando muito mais difícil. As pessoas não são mais atraídas, exclusivamente, pela remuneração e benefícios. Busca-se, também, um propósito, que é o maior desafio do S de qualquer empresa.
Empresas com propósito, que adotam práticas e compromissos, são empresas com significado e, neste caso, empresas que rompem o status quo do mercado tradicional. Entra em cena o debate quanto ao respeito à pessoa e dignidade humana, direito ao trabalho, direitos do trabalhador, paridade de gênero, equidade racial, diversidade, inclusão... Ou seja, empresas que ainda não adotaram essas pautas estão no passado e sob risco de sofrerem reveses, pois o mercado mudou e o cliente também.
De outra parte, esta é uma mudança que para muitos ainda soa como radical, infelizmente. A depender da região e da natureza do negócio, são pautas que talvez não sejam tão rapidamente admitidas. Em alguns ambientes, determinadas práticas são mais do que tradicionais e estão impregnadas na cultura, e uma mudança cultural é algo muito difícil de construir. Às vezes, passam gerações e o negócio acaba sem mudar uma linha em seus valores e comportamentos.
Portanto, por mais clara que seja a percepção de que os tempos são outros, alguns jamais farão diferente e serão selecionados pelo mercado de consumo, da mesma forma que os dinossauros foram extintos da face da Terra. Nosso papel é difundir essa nova cultura e moldar novos modelos de governança (o G do ESG), baseados em decisões estratégicas, de proteção do negócio e minimização dos riscos.
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